February 8, 2006

Heróis e Vilões (spoiler Collateral)

O título Spoiler é usado em textos que falam de finais de filmes ou livros, para que pessoas que ainda não assistiram ou leram não vejam o texto e estraguem a história. Então se você não viu Collateral nem leia abaixo.
A luta entre mocinho e bandido é colocada de uma forma bem legal nesse filme. Eu acho que isso é grande fator por ser um filme irado. Roteiro e tal. Não sei se alguém estranha eu escrever "mocinho" e "bandido" aqui, nos dias de hoje. Peguei esse costume com meu pai, que sempre acha um mocinho no filme, e o conceito é bem desenvolvido em Lisbela e o Prisioneiro, onde eles passam um tipo de revival-preto-e-branco-livre-adaptação do Médico e o Monstro. Então vou usar esses dois nomes bastante aqui, portanto, não contem com aspas em volta desses dois ícones.
Acredito ser possível dividir o mocinho em três grandes tipos. O primeiro é o carinha frio, seco e as vezes até mau, mas que faz o trabalho dele na história. os mocinhos sempre fazem o que precisa ser feito, de uma forma ou de outra. Uns exemplos podem ser o próprio Huppert Bogart em Casablanca, a maioria dos papéis do Clint Eastwood (Os imperdoáveis por ex) ou papéis do tipo Clint Eastwood; um exemplo mais recente que lembro é o Keanu Reeves no Constantine. Esses mocinhos as vezes se machucam. Dão mais sangue do que os outros dois tipos, e vivem num dilema: normalmente destestam o que fazem, mas sabem que têm que fazer porque são os únicos bons o suficiente. O próximo tipo é o mocinho invencível, que ninguém acerta o tiro, que não sangra, não sua e pega qualquer mina. Daí tem vários, é até chato lembrar: tem os 007s a partir do Timothy Dalton, tem o Tom Cruise em MI2, tem o Vin Diesel em sei lá, Triplo XXX (hauuhahua tosco hein), bom, exemplos desse não faltam. Mas como eu disse, chega a ser chato ficar lembrando. E terceiro tipo é um muito interessante; é o mocinho que é gente como a gente. É o mocinho do povo, da galera. Que de alguma forma caiu uma missão na mão dele e ele precisa resolver aquilo pra salvar o mundo. E quem diria, no começo do dia ele nunca ia imaginar estar usando roupas caras e pegando as minas gatinhas. Ele era um ser normal antes de ser encobido da tarefa. Ele era um Zé Ninguém. Tem os peões do Armaggendon salvando o mundo de um asteróide do mal, tem sei lá, o Chris Rock em Má Companhia. Ou o taxista Jamie Foxx em Collateral.
Mas aí tem o outro lado da história! Os vilões. Aqueles que nós amamos, mas queremos ver trucidados no final do filme. E sempre acabamos vendo. Porra, esses caras são fodas! Eles representam o que nós gostaríamos de fazer, enquanto os mocinhos representam o que de fato fazemos! Por isso mocinho x bandido nunca deixa de ser legal. Não quero dizer que não é possível, mas digo que prefiro não colocá-los em categorias como fiz acima. Os caras são maus de verdade. E eles não precisam de motivo. O motivo pra eles existirem se limita ao motivo que o filme existe, ou mesmo que o mocinho existe ou precisa existir (como em Corpo Fechado). Sem eles não há nada. Não há onde a gente se espelhar pra criar o super-ego nosso, e saber o que é errado e o que é certo pensar. O bandido normalmente tem estilo. Se não tem é porque o mocinho é o cara com estilo no filme. Mas normamente o vilão rouba a cena. Não? Acho que sim. Citar Hannibal Lecter (Hannibal the Cannibal) seria forçar a barra pro meu lado né? Mas não precisamos de tanto. Tem por exemplo o Danni de Vito em Com o Dinheiro dos Outros, que é um cara super rico, ama o dinheiro e tem o seu estilo, mas é o vilão da história - e tenta nos ensinar alguma coisa em algum ponto da história. Mas esse filme é comédia (e boa) e sai dos padrões que quero discutir aqui. O vilão pode ser qualquer coisa, desde um asteróide, um sociopata ou um ganancioso com talento. No caso de Collateral o vilão é um sociopata mesmo. Eu diria tranquilamente que o personagem Vincent interpretado por Tom Cruise faz o filme. Não querendo demerecer a atuação do Jamie Foxx, que é igual ou superior a do Tom Cruise; mas sim o papel dele no roteiro. Vincent é um cara frio, que mata por dinheiro, e principalmente um sujeitinho vazio. Tão vazio que preenche a noite de Los Angeles. Uma ilustração é:
Max: You killed him?
Vincent: No, I shot him. Bullets and the fall killed him.
Ou então:
Vincent: There's no good reason, there's no bad reason to live or to die.
Max: Then what are you?
Vincent: I'm indifferent.
O que eu acho legal pra essa análise é o quanto esse personagem vazio sabe se relacionar bem com seu ambiente e com sua vítima, e ele mais do que qualquer outro no filme sabe analisar o contexto. Ele é o único lá que sabe o que quer e tem seus objetivos. Os outros surgem no caminho e sabem que tem que impedí-lo. Já Max tem seus sonhos que nunca seriam realizados. Vincent faz ele perceber isso. Um "cara normal" não só deixa de ser um cara normal por matar o assassino, mas também por perceber sua própria insignificância e daí em frente mudar. A melhor mentira é aquela que contamos a nós mesmos e acreditamos plenamente. Max sofria disso, mas o Vincent não.
Bom, o filme é excelente em edição, e junto com isso vem trilha sonora ou efeitos sonoros (acho que nem existe mais!); fiquei até com vontade de comprar o CD (é, CD mesmo, lembram?). Mais porque dão cor e ação ao filme. Ele é sensacional enfim. Me fez pensar a importância de um mocinho e um bandido na tecelagem de uma história. Vi um documentário em que Michael Mann fala da importância que deu no momento da morte do Vincent; em que eles estão andando de metro e atrás do vilão morrendo vai surgindo uma árvore, e que representa mais uma vida em contraste com mais uma morte. É um puta cara caprichoso. Esse contraste é mostrado o tempo todo, inclusive na cor da pele dos dois protagonistas, e mostra a questão de um completar o outro, do Ying Yang, I Ching, Coincidência Cósmica ou essa merda toda. hehehehe
Desculpem o tamanho do texto mas achei importante colocar algumas coisas aqui. Um dia ainda tomo coragem pra colocar tudo que precisa ser colocado.
PS: Não deixem de visitar http://www.jasonbeamstudios.com , que foi de onde eu tirei as outras imagens sem ser a do filme. É engraçado porque foi só eu pensar em Vampiras Lésbicas que já surgiu em minhas mãos um site de um cara que faz imagens fodas também sobre isso. Animal, visitem!

1 comment:

Wobler said...

primeiro eu comento logo sem ter terminado de ler mesmo. 1- acho legal q a lu esteja acompanhando

2- muita referencia, muita, impressionante. pode vir mané achando q sabe mais q alguem aki do blog, + se juntar amigo, aí kero ver um palhaço manjar mais d tanta coisa