February 20, 2006

Na Ilha de Lia No Barco de Rosa

Quando adormecia na ilha de Lia
Meus Deus, eu só vivia a sonhar
Que passava ao largo no barco de Rosa
E queria aquela ilha abordar
Pra dormir com Lia que via que eu ia
Sonhar dentro do barco de Rosa
Rosa que se ria e dizia nem coisa com coisa

Era uma armadilha de Lia com Rosa com Lia
Eu não podia escapar
Girava num barco num lago no centro da ilha
Num moinho do mar
Era estar com Rosa nos braços de Lia
Era Lia com balanço de Rosa
Era tão real
Era devaneio
Era meio a meio
Meio Rosa meio Lia, meio
Meio-dia mandando eu voltar com Lia
Meia-lua mandando eu partir com Rosa

Era uma partilha de Rosa com Lia com Rosa
Eu não podia esperar
Na feira do porto, meu corpo, minh'alma
Meus sonhos vinham negociar
Era poesia nos pratos de Rosa
Era prosa na balança de Lia
Era tão real
Era devaneio
Era meio a meio
Meio Lia, meio Rosa, meio
Meio-dia mandando eu voltar com Lia
Meia-lua mandando eu partir com Rosa
Na ilha de Lia, de Lia, de Lia
No barco de Rosa, de Rosa, de Rosa



O poema representa a indecisão do autor (eu-lírico se preferirem) com relação a duas garotas. Lia e Rosa. Quando ele está com Lia ele sempre está pensando em Rosa. No entanto, ele nunca está com Rosa. Outro ponto é que Rosa e Lia são vistas por ele como tecelãs de uma armadilha para ele. E ele "não podia escapar". Dá pra ver pelo resto do texto que o único motivo que ele não consegue escapar é que a armadilha não é armada pelas garotas, e sim, claro, por sua própria mente.
É nesse momento que eu queria chegar, no segundo nível de interpretação desse texto. Rosa e Lia não são duas minas. Lia e Rosa representam o sim e o não. Ainda é a indecisão do autor. Mas não por duas garotas. Acho que é a indecisão que ele terá sempre em toda a sua vida. Aquele sentimento de inquietação que nós temos quando conseguimos alguma coisa, e quando deixa de ser a "novidade interessante".
"Era poesia nos pratos de Rosa
Era prosa na balança de Lia"

Olha isso que foda! O autor coloca Rosa como poesia porque é a parte sonho do ser, a parte que não existe, mas que ele almeja. E Lia é prosa, é o que existe e é facil dele mesmo entender. É a realidade que ele vive, constantemente perturbada pelos sonhos com Rosa. Só que Lia rima com poesia e Rosa com prosa. Acho que aí ele mostra que não faz diferença nenhuma das duas, e rimaria igual se ele tivesse com uma ou com outra realidade. O que existe é o constante questionamento de si próprio.
Última colocação. Acho uma pena eu só escrever textos em prosa aqui. Talvez se fossem em poesia ficassem mais coesos e com mais conteúdo. Mas querido leitor, temo não ter tal habilidade. Por isso admiro o Omar e os dois textos em poesia que ele já colocou aqui. Keep out the good work.

4 comments:

Wobler said...

Vc me admira?

Eu admiro quem causa
Eu admiro quem aparvora nas baladinhas
Eu admiro quem manda bem
Eu admiro quem vai de O´mayleys e de Bigode e de O´mayles e de Bigode..
Admiro quem os outros falam "ele ta exagerando"
Admiro quem driblas todas as situações e sai de bonzinho ainda
Admiro que garante Lia E Rosa
Admiro o certo em detrimento do errado

Léo Olmos said...

Esqueci de compartilhar com vocês que o poema é do Chico Buarque musicado pelo Edu Lobo.

Anonymous said...

Amei o poema...
A interpretação entao, nem se fala.
É sensacional poder ir mto além do que as simples palavras. Isso me fascina.
Vc e o Omar estão de Parabéns. Este blog tem mto mais do conteudo. É Brilhante.
Bjs

Henrique Yosioka said...

Mano, eu te amo ... vc e´ o unico cara que admiro !!! meu, seus comentários são animais !!!

sério... animal..!!!